quinta-feira, 29 de novembro de 2007

INSÔNIA

Olhos que não se fecham remoem coisasno raio deixado pela porta entreabertaque dá para o corredor escuro.Narram tudo que não se quer ouvircaptam sons impossíveisrevelam inconfessáveis errosrecolhem do passado, como ventosasimagens vagas e ininteligíveistrazidas em câmara lenta pelo tempo.Dizem tudo e nada dizem dos amores anômalosesquecidos pelas ruas, hesitantes à luz mortiçados dezembros solitários...
Olhos míopes distinguem imagens fantásticasrecolhem o passado com as mão e o atiranas paredes do corredor escuro- argamassa que não se amolda e se deixa respingar,


enrijecer-se ao tempo e ao ventonuma forma encarangueijada.Divisam a rua, tortuosa e diáfana, que não terminava nunca.Olhos que não se fecham vão enchendo a bola frágilde coisas que passaram e esqueceram de passarSopram a alegria transida de frio, chove lá foraSopram a voz de alguém chamando de longea dizer que não suporta a dor de ser tristeSopram a solidão batendo na porta e no coraçãoe a passagem dos mortosSopram os olhos de neblina no dia em que fui me emboraSopram o feto morto e retido a explodir no amanhecer.

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